Conte-nos sobre a Grandpa Joel’s Coffee. O que é, e o que faz, exatamente, a empresa?
O Grandpa Joel’s Coffee industrializa e comercializa café da nossa fazenda e de pequenos produtores locais na região de Santa Rita do Sapucaí, MG (cidade onde acontece o HackTown, conhecida como o “Vale do Silício brasileiro”).
Nós torramos e prestamos serviço de torra, agregamos valor ao café oferecendo produto como cápsulas, licores, chás, geleias, artesanato. Nós também valorizamos as frutas características da região e do nosso pomar, em forma de doces, geleias, licores, sempre em parceria com pequenos produtores locais que agregam com seu conhecimento e tradição na produção. A gente entra com as ideias, modelos de negócio e ajudamos na apresentação do produto.
Para isso, vendemos B2B para diversas cafeterias no Brasil e mundo afora, além do B2C, para o qual de termos nosso próprio e-commerce, nossos coffee shops, um em Santa Rita do Sapucaí e outro em Santos (SP), e as duas coffee bikes nas quais rodamos eventos por todo lado.
Como surgiu a ideia? Por que café?
O Grandpa Joel’s surgiu de uma necessidade de ir de uma ponta a outra da cadeia do café sem intermediários. Para isso, foi necessário construir uma marca, criar um site e contar nossa história. Mas o sentido principal de se manter a fazenda de café, que naquele momento não dava lucro, foi emocional.
O Sr. Joel Dias, que chamamos carinhosamente de Grandpa Joel, pai do meu sócio e marido, Pedro Dias, sonhava em se aposentar e viver da cafeicultura. Já doente e debilitado, ele não conseguiu realizar seu sonho. Então a gente decidiu, por amor a essa tradição e ao Grandpa Joel, encontrar uma forma de manter vivo esse sonho. Foi assim que a gente começou tudo.
Como a empresa vem se desenvolvendo? E como ela é estruturada hoje em suas várias frentes de negócio?
A gente estruturou nosso negócio em quatro partes. Primeiro a fazenda, que mantivemos o nome original, Estância Sítio Capinzal. Em segundo a produção industrial, em que temos a torra de café para nossa marca e também para terceiros, e a artesanal, em que temos uma cozinha colaborativa que montamos em 2019, onde, em parceria com micro produtores da região, fazemos nossos doces, geleias e alguns outros produtos. Nós ainda disponibilizamos a cozinha para terceiros, para pessoas que tem talento mas não tem um espaço adequado em casa para produzir. A terceira frente é a de comércio e distribuição: nosso coffee shops, e-commerce, as bikes, as vendas B2B para outras cafeterias. A quarta frente é o turismo rural.
Como surgiu essa ideia das lojas próprias? E quais tem sido os principais desafios e conquistas nesse sentido?
Os nossos coffee shops nasceram de uma procura por franquias da marca. Hoje, eles funcionam também como um showroom para a apresentação dos nossos cafés e de produtos da região que levam a nossa marca. Já tínhamos esses produtos disponíveis nas coffee bikes, que foi onde iniciamos as vendas próprias, em eventos e feiras, e para venda a outros comércios que desejam revendê-los. Depois passamos a tê-los disponíveis também nas nossas próprias lojas.
Santa Rita do Sapucaí é uma cidade produtora de excelentes cafés. Ter um coffee shop aqui é um desafio, pelo nível dos nossos consumidores. isso nos fazer estar constantemente fora da nossa zona de conforto, inovando na produção e na apresentação do produto.
Há alguns anos, vocês foram convidados para o programa da Fátima Bernardes, na Globo, em função de serem pioneiros na questão da bicicleta. Como tudo isso aconteceu? E o que gerou de oportunidades para o negócio na época?
A Globo ligou pra gente logo depois da feira da Semana Internacional do Café. Demos uma entrevista pra eles via Emater, e logo depois vieram nos procurar para participar do quadro “criativos na crise”. Daí em diante, foi tudo muito rápido. E até hoje não parou. Estamos constantemente em um ritmo bem cafeinado! Desde lá, vieram várias parcerias, várias oportunidades, abrimos as duas lojas, nos apresentamos em eventos. Estamos em constante movimento, o tempo inteiro.
Estamos passando por um período complicado com a pandemia do Covid-19. Como isso tem impactado no seu negócio? E o que vocês tem feito para superar tudo isso?
O impacto foi grande. Nós paramos, respiramos fundo, e começamos avaliar novas oportunidades que essa realidade nos traria. Como dependemos muito das cafeterias que compram por atacado da nossa empresa, e são lojas físicas, o volume diminuiu muito. A partir disso, começamos a focar em fortalecer o delivery, que era um plano que tínhamos desde o início mas que pelo volume de vendas e a correria do dia-a-dia não nos dedicamos, e estamos super focados no e-commerce. Nesse caso, não só no nosso próprio e-commerce, mas também em parceria com grandes plataformas de venda online, como SENAR, Magazine Luiza, entre outros.
Na sua opinião, como o fato de estar em Santa Rita do Sapucaí (MG), cidade conhecida como criativa e inovadora, tem ajudado no desenvolvimento da empresa?
Estar em uma cidade criativa como Santa Rita faz a diferença em função da quantidade de eventos que existem e atraem pessoas de inúmeros lugares, como o próprio HackTown. Isso nos dá oportunidade de falar, de mostrar e de divulgar nosso trabalho para pessoas do mundo inteiro.
Você mencionou o leque amplo de produtos que possuem. Como surgem esses projetos? E como vocês gerenciam tudo isso?
A gente se baseia em pesquisas que fazemos. Construímos nossas ideias a partir disso, e convidamos terceiros para parcerias. A partir daí, fazemos uma adequação do produto ao perfil do nosso público e da nossa empresa. Não é fácil gerenciar tudo isso. É por este motivo que estamos sempre abertos aos sócios investidores. Assim não perdermos o foco do café e conseguimos manter tudo isso vivo.
Vocês tem uma relação bem sustentável com os pequenos produtores rurais da região de forma bem ampla, muito além do café? Conte-nos sobre isso.
Temos contato constante com esse produtores. São, em sua maioria, nossos vizinhos, que vão lá trocar ideia, conversar. A gente montou, por exemplo, o terreiro suspenso de uma forma bem econômica. Então eles foram lá pra ver como era feito, pra poder fazer também. Muitos deles não tem terreiro, é terra. Colocam o café direto na terra. Então, esse nosso projeto econômico, com bambu, foi uma oportunidade, uma forma diferente deles terem um terreno de qualidade e de valorizarem ainda mais o café que produzem. Isso é só uma de inúmeras coisas. Antigamente eles iam lá porque precisavam do nosso terreiro. Alugavam ou usavam nosso secador também. Então, de alguma forma a gente acaba ajudando com algumas ideias e na evolução deles, eles ajudam a gente. Então mantemos um contato bem próximo.
A gente se relaciona também com outros produtores por meio de feiras e eventos: feiras direto do produtor, feiras com o consumidor final, eventos com especialistas em café. A Semana Internacional do Café é um ótimo exemplo disso. Com todas essas viagens e todas essas oportunidades, a gente acaba vendo talentos que ficam restritos à famílias e amigos, que fazem coisas incríveis, mas apenas em casa. A gente vê isso como uma oportunidade não só de aumentar a renda dessas famílias, mas também do consumidor ter acesso a algo tão exclusivo.
Um exemplo disso é o nosso licor. Eu conheci um produtor que fazia licor de café, aí perguntei se ele poderia fazer um com o nosso café. Mas logo pensei, por que não fazer o licor da casca do café? E ele topou. A partir disso, fizemos um produto exclusivo no mundo do café. Aí, um dia percebi que ele andava com as colméias dele pra todo lado, e perguntei: você põe elas perto da flor do café? Ele respondeu que poderia, já que fica andando atrás das floradas. A fazendinha dele é bem pequena, um sitiozinho. Lá ele planta amora, e quando é época da florada de amora, ele coloca as colméias perto das amoras. Com essa ideia, ele passou a colocar também perto da florada do café. Sempre que consegue o mel puro da florada do café, ele me avisa e vou buscar, assim como o mel puro da amora, mas nada de misturas. E assim foi criada outra oportunidade: o mel da flor de café. Depois começamos a fazer parcerias com outros produtores e fomos expandindo as variedades. Neste momento, em função da época do ano, estamos comercializando o mel da flor da goiabeira e também da flor do café. É dessa forma que a gente tenta fazer em relação a tudo que se produz na fazenda e na região.
O design dos seus produtos é muito legal, tanto na logo, na identidade visual da empresa, como também nas embalagens. Na sua opinião, qual a importância do design nesse mundo do café? E como vocês lidam com isso no dia a dia da empresa?
Antes de consumir o produto, as pessoas consomem com os olhos. A apresentação, o capricho e a informação são detalhes que se destacam na prateleira. Então, quando a minha prima, que é designer nos EUA, foi desenvolver a nossa identidade visual, ela tomou o cuidado de pensar em todos os detalhes que compõem o café. Até a xícara do café que consta na nossa embalagem teve uma ideia interessante por trás. Eu sempre percebo que as pessoas cheiram a embalagem, que colocam a válvula perto do nariz, apertam o café e cheiram. Então tomei o cuidado de pedir pra que essa xícara do desenho ficasse exatamente em cima da válvula. A partir disso, quando a pessoa aperta para sentir o cheiro, o cheirinho da válvula sai exatamente no desenho da xícara. Acredito muito que são esses detalhes que fazem a diferença. O capricho, o detalhe em tudo, desde a embalagem até a produção, ao servir o café, de tudo a gente cuida com muito carinho.
Em uma das respostas anteriores, você mencionou o trabalho que fazem de turismo de café na região de Santa Rita do Sapucaí. Conte-nos um pouco sobre isso.
Desde que começamos, a procura pelo passeio na fazenda sempre foi muito grande. No entanto, como não estávamos bem preparados nem acostumado com isso, já que Santa Rita não é uma cidade com esse tipo de turismo, a gente não tinha essa experiência. Recebíamos o pessoal de forma informal, levávamos a cestinha de piquenique com cafezinho coado, uns biscoitinhos, pãozinho de queijo, um licorzinho. Aí a gente sentava depois do passeio e contemplava a vista, que é linda. Só que isso foi crescendo. Então, os próprios visitantes começaram a dizer, não é possível vocês não cobrarem por isso. E o número de visitantes não parava de aumentar. Chegamos a receber um grupo de 19 pessoas de uma vez só, o que pra gente é bastante.
A partir disso, passamos a organizar mais este roteiro, com início, meio e fim. Os passeios ganharam tempo e roteiros determinados, tem café da manhã e almoço de alta qualidade só com produtos nosso e de outros produtores locais. Incorporamos até um workshop de café. Na época da colheita, é possível acompanhar as etapas de colheita, de lavar o café, de rodar o café no terreiro. Essas experiências nos fizeram concluir que é isso que o pessoal realmente quer vivenciar. É um turismo de experiência.
Estávamos com tudo pronto para entrar nessa nova fase, agora no início da colheita, em maio, oficialmente no dia nacional do café. No entanto, com a pandemia, os nossos planos mudaram. Mas tudo bem, a gente ainda tem os planos, né? Depois quando tudo isso passar, vamos organizar tudo certinho para poder receber as pessoas o ano inteiro.
O que podemos esperar para o futuro? Quais são os planos que você já pode contar?
O grande plano é o turismo de experiência, um dos nossos focos no momento. Também temos vários outros planos e ações ligados tanto ao aprimoramento como em novas possibilidades ligadas ao e-commerce e ao delivery, assim como a divulgação de tudo isso. A gente tem muitas ideias e projetos na manga, sempre aguardando o momento certo e o parceiro certo.
Pra finalizar, que aprendizados você teve até o momento e que daria de conselho a quem está entrando agora no ramo do café?
Bem, o mercado do café especial é muito sofisticado e inovador. É um mercado inteligente com consumidores exigentes. Os profissionais precisam ser altamente treinados e capacitados, Acho que isso é um bom começo.
Afonso
8 de julho de 2020 at 08:18Achei muito legal e interessante a história do Grandpa Joel’s Coffee. Parabéns pela entrevista e pelo blog. Estou curtindo muito.