Bilhões de pessoas no mundo todo estão isoladas nas suas casas, e com muito tempo livre. Não é novidade que as plataformas de streaming de filmes e séries teriam um boom ainda maior nesse período, consumindo cada vez mais o tráfego mundial da internet. Aliás, segundo estudo da Cisco realizado pouco antes da pandemia, até 2022 o streaming de vídeo deve representar 82% de todo o tráfego online. Agora, com o isolamento social, esta previsão tende a acelerar.
A maior de todas, a Netflix já é responsável por 15% de todo o tráfego mundial da internet. A empresa anunciou há poucos dias que bateu a marca de 137 milhões de assinantes em 190 países, um aumento de cerca de 6 milhões de assinantes em relação a 2019. E mesmo com todo esse crescimento, precisa continuar fornecendo conteúdo de vídeo com velocidades e capacidade de resposta extremamente altas – tudo isso com estabilidade e sem congestionar globalmente a internet.
Antecipando seu crescimento exponencial, a Netflix anunciou, em 2012, uma novidade chamada Open Connect, que teve início nos Estados Unidos e, em 2016, se tornou global. Trata-se de uma forma inteligente de disponibilizar conteúdo online globalmente que revolucionou a forma de se distribuir streaming de vídeo.
Funciona assim: ao invés de manter todo seu conteúdo armazenado em poucos locais, a sacada da Netflix foi descentralizar e regionalizar essa distribuição. Ou seja, você não acessa seus filmes e séries favoritas a partir de um data center da própria Netflix em algum outro país. O conteúdo vem de um provedor de internet próximo à sua casa. Os filmes e séries que você assiste no Netflix, portanto, estão armazenados a pouco quilômetros da sua localização.
Imagine o tráfego da Internet como uma avenida cheia de automóveis. Se todo mundo tentar acessar algo ao mesmo tempo, o resultado será um engarrafamento na rede. Ou seja, os dados vão se movimentando de forma cada vez mais lenta, podendo até travar.
Para reduzir em muito essa possibilidade, a Netflix criou uma rede global descentralizada de servidores, localizados nos provedores de internet locais, que contêm o seu conteúdo, como se fossem estradas diferentes para o mesmo destino. Tecnicamente, aliás, o Open Connect se chama CDN. Com ele, sempre que há um pico de pessoas assistindo alguma coisa, a Netflix se mantém funcionando bem.
Na prática, o Open Connect é uma “caixinha” com 100 TB de armazenamento, instalado diretamente nos servidores do provedor de internet espalhados pelo mundo. Esse dispositivo mantém localmente os conteúdos mais acessados no Netflix, com base em dados geográficos.
Essa solução reduz a dependência de poucas vias, e, consequentemente, a latência, entregando uma experiência de streaming mais consistente. Ou seja, O Netflix envia para cada caixa Open Connect dessa uma ou duas cópias do que os clientes nas proximidades são mais propensos a assistir, com base em modelos internos de previsão de popularidade.
Além disso, se a Netflix errar na previsão e um público maior do que o esperado quiser ver algo que não está pré-carregado em um dispositivo Open Connect, serão necessários apenas 15 minutos para transferir um programa da nuvem para uma dessas caixas. Com isso, 85% do tráfego brasileiro na Netflix, por exemplo, é local.
Na crise do covid-19, mesmo com toda essa amplitude proporcionada pelo Open Connect, a Netflix precisou reduzir a qualidade dos vídeos para não ter problemas de tráfego. O Brasil, por exemplo, foi um dos países que tiveram redução na qualidade de imagem na Netflix em uma espécie de racionamento de banda. A lógica é: como há muito mais pessoas em casa por medidas de isolamento social, as redes da plataforma, mesmo com o Open Connect, passaram a ter risco de sobrecarga.
Em uma situação extrema como a atual, foi realmente necessário tomar uma medida técnica de redução na taxa de bits utilizados durante a transmissão. Entretanto, se não fosse a ideia do Open Connect, certamente já teríamos tido uma pane geral não só nos serviços de streaming, mas na internet como um todo.
Tamanha sua importância, depois de oito anos, o sistema de CDN por trás do Open Connect vem sendo também adotado pelos outros serviços de streaming, pouco a pouco. Ou seja, a Netflix, além de toda a disrupção gerada pelo seu modelo de negócios que revolucionou o mercado de filmes e séries, também foi protagonista em uma grande transformação na parte de infraestrutura para que isso acontecesse.
Quem diria… uma inovação criada há 8 anos, vem, mais do que nunca, fazendo toda a diferença neste período de pandemia.
Romário
6 de julho de 2020 at 22:55Adorei a matéria 🙂
Milton Viggiani
6 de julho de 2020 at 23:59Muito esclarecedor! Parabéns pela estratégia, digna de século 21! 🤗🤗🤗🤗
Paulo Roberto Gomes
7 de julho de 2020 at 13:36Excelente matéria, parabéns ao autor que explicou de forma simples e objetiva!!!
Maurício
8 de julho de 2020 at 21:11Parabéns pela ótima matéria! Muito esclarecedor.
Luis Fernando
8 de julho de 2020 at 23:05Tá horrível assistir Netflix em menos de 480p de resolução, mas fazer o que se a gente reclamar o preço aumenta.
Hélio
9 de julho de 2020 at 00:28Como é bom ler matérias interessantes na atualidade. Detesto quando quase todos os comentários e tutorials sobre internet so feitos em vídeo! Parabéns pelo texto. Objetivo e muito informativo.